APRESENTAÇÃO

Há anos me dedico à pesquisa sobre a atuação musical do meu avô, José Duprat Pinto Bandeira, e do meu bisavô, João Pinto Bandeira, em Pelotas, cidade onde eles nasceram e viveram. São DUAS batutas de maestros que circularam ao longo de 110 anos pelos ambientes musicais da cidade. São DOIS batutas na arte de reger, tocar, compor, orquestrar e ensinar. Cresci ouvindo histórias contadas pela minha mãe e alguns dos meus tios. Depois, o músico e pesquisador Luiz Carlos Lessa Vinholes, que foi aluno do meu avô, começou a escrever artigos mostrando a relevância deles no cenário musical. Mais tarde, tive acesso a um bem que considerei minha herança, e foi a partir dele que tive a sensação de conhecer meu avô mais profundamente - ele que eu não conheci pessoalmente, já que morreu antes de eu ter nascido: o diário que ele mantinha descrevendo as turnês que fez pela América do Sul quando morava na Argentina. A partir daí comecei a cruzar informações dos materiais que eu já tinha - partituras, programas de concertos, fotos, documentos -, com matérias de jornais, teses e dissertações, livros -, encontrando mais registros, e realizando entrevistas. Assim tomei conhecimento de muitas coisas que eles realizaram, assim como uma infinidade de músicos que tornaram Pelotas tão significante nesse campo, desde as primeiras décadas do século XIX, e tentei fazer um pequeno resgate desses nomes. Este é um livro de memória afetiva. Optei por usar em cada capítulo uma micro-história, um local da cidade, um personagem - fazendo uma referência maior aos músicos que tiveram uma relação mais próxima a eles, a Olga, o Rochinha, o Tagnin e a Zola. E aqui deixo para minha família e para interessados minhas descobertas de tudo que os músicos de uma pequena cidade quase no final do mapa do Brasil faziam, da mesma forma que os das capitais e de outros locais do interior do Brasil. Entremeado aos acontecimentos da vida de um ser transparece a história de um lugar, de uma época e de outros que vivem ao redor, por isso acredito que a experiência de uma pessoa provoca interesse em desconhecidos e além de sua trajetória, pois é a vida de muitos músicos desses períodos que está retratada aqui. Uma homenagem a minha avó Raquel Mazzara, que veio tão jovem da Itália para casar em um país desconhecido. E para minha mãe Margot, que passou a vida me contando dos bailes onde dançava ao som das orquestras do meu avô e que é um dos anjos do Locatelli na Catedral.

O trabalho só foi possível com o Edital Memória e Patrimônio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) 2023.